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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quintal Vermelho

Na semana passada, a Folha publicou na sua secção Ilustrada uma entrevista com o diretor norte-americano Oliver Stone [de “Platoon”].

Ele esteve na América Latina para gravar um documentário sobre os presidentes que aqui governam. Para minha surpresa ele elogiou muito o presidente Hugo Chávez. Não pude acreditar que um americano lúcido estivesse defendendo um presidente tão autoritário e desrespeitoso.

Sim, estou fazendo juízo de valor; mas isso também foi feito pelo cineasta, que disse que as companhias de TV na Venezuela são dirigidas “por lunáticos” [80% da mídia privada, segundo ele]. Defende ele, ainda, que Chávez faz o que faz em defesa da liberdade de expressão. É interessante ver como os venezuelanos conseguiram chegar longe com a pesquisa de manipulação cerebral.

Não é possível crer que um “ditador”, que fecha diversas companhias de TV, seja considerado, por um grande cineasta [o que supõe inteligência] norte-americano [o que supõe paixão pelo liberalismo], um defensor da liberdade de expressão. Segundo ele [Stone], não é possível dizer certas coisas nas televisões dos Estados Unidos, pois seria cassada a licença da rede.

Pois bem, fato novo – de fato –, realmente não sabia que a sua licença de TV nos Estados Unidos poderia ser cassada por incitar um golpe de Estado. Mas como não fazer isso na Venezuela, ver todos seus direitos cessados, praticamente, e ficar quieto é coisa [aí sim] de lunático.

Stone ainda compara Chávez com Fidel [Castro], coisa inimaginável, é realmente o que o venezuelano gostaria, mas ele não chega aos pés do cubano. Digo isso por que, antes de assumir o governo da Venezuela, Chávez tentou atingir o poder através de um golpe de direita. Fidel sempre se manteve fiel aos seus ideais, fora isso ele é realmente um comunista, sabe o que deve ser feito, e sabe qual sua ideologia. O divertido [só pode ser comediante] venezuelano nem sequer deve ter lido o Manifesto [Comunista] e fala como se fosse dono da razão.

Comenta, ainda, o diretor sobre o presidente Lula e outros presidentes da América do Sul. Segundo ele, os presidentes daqui têm interesse de coração no povo. Tá, eu sou um pouco frustrado com o meu país, mas me digam onde está esse interesse? Um presidente que diz na cara de todos que “não sabe nada”, quando na verdade deveria estar expulsando os corruptos do planalto.

Especificamente sobre Lula, Stone diz que ele não é tratado como igual entre os outros líderes do mundo. Eu sempre o vejo ser tratado com um respeito maior fora do Brasil do que dentro, até porque é onde ele passa mais tempo, e foi, também, eleito uma das pessoas mais influentes do mundo – numa lista em que a Lady Gaga está em terceiro lugar. Completa (posteriormente) que o presidente se dá bem com todos os líderes sul americanos, fato. Mas o que ele não tem noção é que essa amizade é pela fraqueza com que o presidente trata seus vizinhos, não querendo gerar conflitos o Brasil é passado pra trás.

Embora todas as falhas expressas na entrevista, devo admitir os acertos. O diretor diz que o presidente Lula é um dos poucos que ruma a um destino correto, enquanto os outros forçam sempre uma guerra o Brasil tenta arranjar meios de agradar ambos os lados [os mais quando necessário]. Isso Lula sabe fazer bem, nunca entendi como conseguimos tratar com Ahmadinejad e com Obama ao mesmo tempo.

Aliás, por falar em Obama, outro acerto de Stone foi quanto a influencia dos Estados Unidos sobre o Brasil. Ele diz que o presidente Lula não deve acreditar sempre nos elogios do presidente Obama, pois há um histórico de manipulação dos Estados Unidos sobre o Brasil quando há interesse dos norte-americanos (como a ditadura militar, apoiada pelo Tio Sam). Completa ainda dizendo que o presidente Obama pode até ser diferencial, mas que não poderá fazer ações como quer, pois quem tem maior poder é o Congresso Americano.

Quem diria um norte-americano [americano, ou estadunidense, como queiram] admitindo tudo isso. Mais impressionante ainda é um que simpatiza com o vermelho do comunismo. Bom, fato é que, se um americano simpatiza com a política da América do Sul – da qual tentamos fugir –, essa é a prova de que a grama do vizinho é mesmo mais verde [ou vermelha, neste caso].

In Dubio Pro Bar

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