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domingo, 20 de junho de 2010

Camuflagem - 2º ato

Abrem-se as cortinas.

Foco no gramado, atletas ansiosos.

Luz no ambiente. Um bar, uma TV, o gramado emitido por ela. Todos tão nervosos quanto os 22 jogadores no outro continente. Mesas de boteco, como de costume, mas, neste clima, até o ar está pintado de verde e amarelo.

Num canto, um grupo de amigos. Seis rapazes, quatro moças. Foco em dois rapazes.

“Vai! Fala logo, cara, para de ficar frio, todo mundo está esperando a sexta taça!” diz um amigo, enquanto insiste empurrando, lateralmente, o outro com o braço.

“Cara, sério. Não temos a melhor seleção, não tem como batermos a Fúria nesta Copa!” reluta o rapaz, suando frio, mas conseguindo emitir as palavras com naturalidade. Pensamentos flutuam…

“Ai… não tem como, é o melhor futebol do mundo; apostei com lógica nesse pedaço de papel, mas não posso negar, nós vamos ganhar. Taça que é de canário Ibérico não bota a mão. Mas não vou me entregar agora, faz um mês, mais até, que estou dizendo da Fúria, a fúria, melhor do mundo; não posso contradizer-me. Vai ser hipocrisia eu comemorar quando ganharmos?”

Com cara de frustração, o primeiro amigo pensa no segundo; o único tupiniquim indo contra a maré, pelo menos no bar, porque de “traíra” a maré está cheia.

“Cara, sério, se tomarmos um gol e você comemorar, eu vou te bater, então não senta do meu lado”.
Foco no gramado, na TV.
Os amigos não se moveram, pois tocou o Hino após esta fala, e eles simplesmente esqueceram a promessa.

Fecham-se as cortinas. Fim da Cena 1.

Abrem-se as cortinas. Cena 2.

Fim de jogo. Festa em vermelho no campo. Silêncio no bar.

Foco no canto do bar.

Os amigos se entre olham. O pensamento é o mesmo, o sentimento também, tristeza. E relutando contra seus pensamentos, e refutando a verdade são ditos tais verbetes
“Cara, sério, não tem como. Eles jogaram melhor, o time deles é melhor, eles têm meio de campo, essência do jogo. Fora isso, pensa no lado bom, eu levei a bolada e vamos poder gastar a grana juntos!” Insiste, inutilmente, o amigo, mentindo para ambos.

Luz no ambiente.

Tristeza geral, não se podia esperar algo diferente. Uma nação de joelhos ao chão, rendida.

Um grupo sai, quase calado, só é possível ouvir de longe “Verdade, e pensem bem, amanhã será um dia normal, e no fim de semana poderemos gastar a grana que vou ganhar”

O dia seguinte não seria um dia normal, pelo menos não naquele trópico.

Fecham-se as cortinas.
Fim do 2º ato.

In Dubio Pro Bar

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